quarta-feira, 24 de julho de 2019

Sobre a Tristeza



Como já dizia o poeta, "É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe".
Quem sou eu na fila do pão para desmentir Vinícius de Moraes?

Mas mesmo assim, é preciso entender qual a importância da tristeza. É necessário respeitar sua profundidade, que na maioria das vezes está ligada à sensibilidade.

Eu ainda me sinto triste quando vejo alguém sofrer, mesmo que a pessoa mereça. A experiência do sofrimento dos outros me entristece, porque o sofrimento é ruim. E essa sensibilidade me engrandece como pessoa, porque me lembra que ainda não me tornei indiferente aos outros.

Eu me sinto triste quando fracasso, principalmente quando sei que poderia ter me esforçado mais. E ter essa consciência me melhora como pessoa porque ela me dá a chance de fazer melhor e me superar da próxima vez.

Eu me sinto triste quando lembro com saudade das coisas boas do passado, mas lembrar das coisas do passado, me faz valorizar toda a caminhada que percorri pra chegar onde estou agora, mesmo que talvez não esteja como ou onde gostaria.

O que estou tentando fazer, é mostrar que existe sim beleza na tristeza. A tristeza tem uma beleza que nos eleva em nossa condição humana. Eu sinto tristeza em não poder viver por centenas de anos e poder conhecer milhares de lugares diferentes. Essa tristeza me desafia a valorizar mais os poucos dias de vida que tenho e me desafia a querer viajar o máximo de vezes que eu puder.

Então, é realmente importante deixar um lugar para a tristeza em nós. Normalmente, a primeira reação que temos ao nos sentirmos tristes é lutarmos contra o sentimento. Saímos correndo desesperados em direção aos pensamentos felizes, pra tentar fazer com que eles nos distraiam da nossa infelicidade. Mas acho que ao longo do processo, comecei a entender que há tristezas que precisamos viver, não rejeitar.

Eu já perdi um longo relacionamento e me sinto triste por isso, perdi grandes amigos porque a vida nos afastou ou porque me isolo, e me sinto triste por isso, não tive a presença do meu pai como gostaria de ter e não tive o privilégio de conviver mais com minha mãe como a maioria das pessoas tem, e me sinto triste por isso. Essas são tristezas que, apesar de doerem, me colocam em posição de crescimento, amadurecimento e enfrentamento da minha realidade. São tristezas que jogam um feixe luz em quem eu sou e por isso, são bonitas. Eu não fujo delas, porque elas me ajudam a ter consciência de mim e da minha vida.

Vivemos tempos onde ser menos do que feliz é inaceitável. As redes sociais que aproximam pessoas que um dia já foram inalcançáveis, vende um padrão de vida onde só existe felicidade o tempo inteiro. Boas comidas, bons carros, viagens perfeitas, bens materiais caros, cobiçados pela maioria, relacionamentos perfeitos, um padrão digital de viver a vida.

A felicidade é a terra prometida, o lugar onde estaremos bem. Lá termina a nossa busca incansável pelo propósito de vida e finalmente teremos todas as respostas para nossos vazios interiores. A inevitável consequência dessa expectativa é o seu oposto: a felicidade vira uma obrigação e logo passa a ser uma pressão, que passa a nos oprimir. E a felicidade, que era o meu lugar de salvação, passa a ser o meu inferno, porque me aflige. Eu preciso ser feliz! E essa obrigação me faz cada vez mais miserável.

Para sair desse status quo, nossa sociedade começa a produzir bens de consumo que me vendem essa tal felicidade. Produzem a redenção da minha tristeza, a salvação do meu inferno. Me vendem a propaganda que o celular tal me fará mais feliz, que jantar em tal restaurante me trará felicidade, que comprar uma casa nos EUA tornará a minha vida mais feliz, desde que tenha uma Ferrari na garagem. E obcecados pela felicidade como estamos, compramos tudo o que queremos mas não podemos. Até o dia que percebemos (se é que percebemos) que a nossa felicidade não está ligada ao nosso poder de compra. O poder de consumir é só mais uma obrigação que faz a minha vida ser miserável, porque eu não tenho dinheiro para comprar tudo o que gostaria para ser feliz.

É uma armadilha. Quando a felicidade se torna uma obrigação, ela é maldita. Quanto mais me sinto obrigado a ser feliz, mais me torno miserável.

A tristeza me torna capaz de perceber a felicidade. Sem a tristeza eu não teria uma régua para atestar a diferença da alegria e da dor. A tristeza, por não vender ilusão e por não ser uma delícia, também não vira uma obsessão: eu não quero estar triste sempre. Isso me traz saúde emocional. Já a felicidade, por ser uma delícia, pode se tornar uma obsessão e, quem quer ser feliz o tempo todo e a qualquer custo, acaba perdendo sua saúde emocional porque ficou obcecado.

Acomodar a tristeza de não ter todas as respostas para as perguntas da vida, acomodar a tristeza de ter vazios interiores impreenchíveis, acomodar a tristeza de não conseguir encontrar um propósito em tudo, acomodar a tristeza da finitude da vida, acomodar a tristeza de conhecer apenas verdades precárias, acomodar a tristeza de possuir convicções provisórias, acomodar a tristeza de errar, acomodar a tristeza de não poder ajudar a todos, acomodar a angústia que toda essa tristeza gera em mim.

Acomodar a tristeza e a angústia são parte da vida humana, e fugir dessa tarefa, só tornará mais difícil a experiência de viver. E aquele que conseguiu acomodar a tristeza e a angústia sem se deixar vencer por elas, já teve uma experiência profunda com a felicidade.

Eu ainda não consegui isso por inteiro, porque ainda estou no meio.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

O Privilégio da Saudade



A saudade quase sempre, é percebida como um sentimento negativo, triste, e de dor. Realmente essa pode ser uma forma de percebê-la, mas depende muito das causas e circunstâncias da perda, despedida ou ausência.

No entanto, existe outras formas de perceber a saudade, e uma delas é a lembrança de que, naquele momento, a nossa vida valeu à pena. Naquele momento, a nossa vida teve um sentido. Quem sente saudade tem história para contar. Quem sente saudade, tem a companhia das lembranças doces.

Por esse motivo, a saudade pode ser percebida, também, como um sentimento de alegria, motivo de uma profunda felicidade.

Eu sinto saudades, por exemplo, de minha mãe, de meu avô, dos meus amigos de escola. Da época em que minha família era muito mais unida e nos reuníamos mais, da época em que cresci na igreja, dos meus amigos de adolescência. Essa saudade, contudo, é uma página bonita da minha história. Eu me visito dela em dias tristes, para lembrar que também já vivi dias alegres.

A saudade ajuda a equilibrar a balança.

Talvez você sofra de uma saudade irreparável, uma perda trágica, uma despedida inesperada, uma saudade que não pode ser lembrada com nenhuma alegria. Nesse caso, eu entendo e respeito o seu sentimento porque também sofro desse tipo de saudade e viver isso, posso lamentar, com o coração apertado por você.

Mas falando pra você e pra mim principalmente, é possível que você nós precisemos reajustar a nossa forma de perceber a saudade, de olhar a saudade. Um ajuste das lentes do nosso óculos. Talvez só precisemos apenas senti-la de forma bonita, deixando toda a dor para trás.

A saudade até pode causar alguma dor, mas é importante reconhecer nela, a alegria de sentir falta. Pois eu só sinto falta do que amei. Então o que é a saudade, senão a prova de que eu tive experiências com o amor? Não perceber a alegria dessa constatação é a verdadeira dor. Não ter memórias de amor é a verdadeira infelicidade.

Seja como for, eu desejo pra mim, e pra você ainda mais, que você sinta saudades. Desejo que as suas saudades contem todos os dias de pura beleza da sua existência.
E mais que isso, que possamos plantar boas memórias para que as pessoas se alimentem delas, quando não estivermos mais no jardim da vida.