terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Reaprendendo a Remar

Há uns meses atrás, passei por uma das experiências mais tenebrosas da minha vida, das muitas que já passei. Estava eu sob a mira de uma arma num sequestro relâmpago já que me levaram junto no carro. Foi uma situação complicada, que me trouxe mais medos do que eu já tinha, e novos traumas, mas que não vem ao caso agora(assunto para um próximo post), mas que me fez repensar muita coisa na minha vida. Esse contexto atual do nosso país de tragédias causadas por incompetência e ingerência humana, perdas inesperadas, também me faz refletir e ressignificar algumas coisas. Algo que precisamos ressignificar, reconsiderar, é que precisamos aprender a lidar com os RECOMEÇOS. Tudo precisa constantemente ser renovado. Atualizado. Talvez por isso seja melhor dar flores ao invés de vasos...
Gosto da ideia de dar flores pra alguém porque uma hora as flores morrerão, e ai é necessário repor novas flores.

Constantemente nossa história empaca porque não queremos abrir mão de planos feitos. Muita das vezes a nossa vida para porque não reprogramamos a rota, não nos desapegamos de projetos ultrapassados e obsoletos, medos vencidos e até pessoas que teimamos em não deixa-las ir. O cantor Emicida tem uma música que diz que “eu me refaço a cada passo, como reflexo nas poças”, e o Mia Couto escreveu que  “eu morro só de mentirinha, como as árvores no Outono”. Também lembro na bíblia quando Simão Pedro, Tomé, Natanael, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos saíram pra pescar e voltaram decepcionados de uma pesca no mar da Galiléia, e Jesus sugeriu “joguem as redes uma vez mais! Tentem do outro lado!”. São recomeços.

Uma das minhas palavras preferidas é “Resiliência”, pois retrata a capacidade de um bambu ser entortado até o limite e não quebrar. Mas hoje ressignifiquei isso também: Resiliência não pode ser confundida com “teimosia”. Uma cega ou inconsciente insistência em repetir algo de forma irracional, e em retornar incansavelmente para o ponto de partida. Dar voltas em círculo e parar no mesmo lugar de antes. O reflexo nas poças se refaz a cada passo, mas sempre passa a refletir algo novo. As folhas que caem no Outono não são da mesma cor que as folhas que nascem na Primavera. Aos pescadores a sugestão teve um detalhe importante: “voltem e joguem a rede novamente DO OUTRO LADO”. Estão entendendo o meu ponto?

Foi Matheus Jacob que disse “Novos ventos só trazem mudanças se soltarmos velhas ancoras”. A vida sem recomeços é uma infantil ilusão, mas a resiliência sem o olhar crítico é burrice. Ninguém é obrigado a acertar sempre. Aliás, lindo mesmo é ver aqueles que não param de recomeçar, de tentar de infinitas maneiras. Thomas Edson disse que antes de acender a lâmpada, ele aprendeu 999 maneiras de saber como uma lâmpada não acende. E o Marcelo D2 já gravou mais de 200 músicas porque ainda está “à procura da batida perfeita”.. Drummond repetia “procuro uma canção que faça acordar os homens e ninar as crianças”Frejat diz na música dele 
"Desejo que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor pra recomeçar".
E no fundo é só isso mesmo.. Recomeçar, mas com uma resiliência inteligente.. E se essa busca for eterna, já valeu mais do que aqueles que vivem estagnados, acomodados, perdidos na maldição de continuar eternamente preso na mesma versão de si. Acho que é por isso que eu me encontrei nessa coisa da música, todo dia eu vou lá e NÃO consigo algo. Todo dia eu preciso recomeçar e tentar de novo, entendendo que meu maior obstáculo sou eu mesmo. Seja num violão, ou numa folha de papel pra escrever um texto como esse, de tanto repetir, chega uma hora que a mente buga, não responde mais e aí eu me pergunto “o que é que eu estou fazendo aqui?”, “porque é que eu estou fazendo isso?” "Como posso aprender a fazer isso de uma forma diferente da que tenho tentado?"... Na resposta dessas perguntas está a distância entre as pessoas que vivem e as que apenas existem.

Pra concluir, me permito ter a irresponsabilidade de dar uma sugestão ousada, mas que atualmente anda fazendo muito sentido pra mim: Aceite o monstruoso desafio de colocar tudo na balança e encarar as respostas. Seu trabalho é relevante pra você ou apenas te sustenta financeiramente? Sua religião(crença)te faz melhor ou apenas te deixa mais chato? Suas postagens refletem quem você é ou não passam do que você gostaria de ser? Suas palavras são reflexos das suas ações, ou são pleonasmos? Se prender às pessoas que você se prende tem sido saudável? Quanto do seu sonho você viveu hoje? Seu namoro tem valido a pena? O que você está fazendo com seu corpo, seu dinheiro, seu tempo, seu conhecimento...


Se preciso, recomece logo. Pois tudo pode acabar em um gatilho.

Que sempre nos exista amor pra recomeçar...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Maldição do Conhecimento

Que há males que vêm para o bem, todos nós sabemos, mas ao longo do tempo, venho percebendo que também há bem que vem para males. Assistindo o filme The Avengers(Infinity War) no trecho onde o vilão Thanos, está lutando com o Homem de Ferro, eles dialogam, e o Thanos reconhece Tony Stark e diz que também foi "amaldiçoado com o conhecimento". Nas minhas andanças por aí, conheci algumas pessoas com um estranho costume: tornar a benção, um infortúnio. Fazer do seu diferencial, seu ponto negativo! É curioso, mas é mais comum do que imaginamos.
Vingadores: Guerra Infinita
Fui apresentado a um ótimo músico do qual sou fã, e é querido por todos em sua comunidade, a não ser pela sua banda e as comunidades que ele visita, que tem nele seu maior “calcanhar de aquiles”. Já apertei a mão de gente que, após se formar com méritos numa ótima faculdade, virou motivo de comentários e olhares tortos no meio onde estava inserido. Já comi pizza com um homem que ainda teria seu filho se este não tivesse tão cedo a condição financeira necessária pra comprar um carro tão rápido, quando ainda era tão imaturo. Era para seu filho estar na mesa conosco... 
Médicos que se tornaram insuportavelmente petulantes, tamanha a capacidade e conhecimento. 
Colegas Engenheiros que se acham os portadores de toda a verdade em absolutamente todas as áreas. 

Não estou dizendo que a excelência é má, mas que a competência sem amor gera morte. E se entendermos por “amaldiçoado”, simplesmente aquele sobre quem se recai algum mal, podemos até dizer que aquele cara que hoje ninguém aguenta na banda por ser arrogante com seu novo violão top de linha, foi amaldiçoado por ganhar este violão. Aquele menino que jogava bola no bairro com todos, no campo de terra batida, e agora na seleção, bem de vida financeiramente, mentindo na entrevista sobre sua origem, foi amaldiçoado com um talento. O executivo do setor privado, que ao ser promovido, agora só anda em outras rodas, com outras pessoas “mais legais”, este foi amaldiçoado com uma promoção. Aquele que de tanto viajar para trabalhar por sua empresa que não para de crescer, “sem querer” se envolveu com uma segunda mulher, este foi amaldiçoado com uma empresa próspera. 
      
Eu não sabia cozinhar, e por isso penso em quanta gente(minha vó, minhas tias, amigos, irmãs da igreja) já encheram a minha cozinha para me ensinar algo! Não sei dançar, e por isso já ri muito com alguns amigos e aquele jogo de dança no tapete. Também não sei jogar imagem e ação, e já ri muito com as mimicas dos meus amigos. Não sei pescar e deve ser por isso que ri tanto naquele barco, quando fui pescar no rio são francisco enquanto o peixe pulava com meu anzol na boca. Uma vez, sai com amigos  e tinha um que não sabia comer de hashi, talvez por isso a janta tenha sido tão legal, rimos bastante disso.    

 Aí eu lembro da entrevista do Guga falando sobre ser o número 1 do tênis mundial, e explicando a surpresa que foi sentir uma súbita solidão quando se viu no topo. “Bom mesmo é ser o 2º” brincou ele. Claro que ser competente é ótimo! Isso nem se discute e nem está em questão aqui! Mas algumas pessoas seriam mais legais se não fossem as melhores do grupo em matemática, ou o mais virtuoso na guitarra, ou o que sabe a constituição federal da primeira a última página, o que fala mais bonito, ou o que tem melhor pontaria ou melhor chuteira... 
Eu aprendi que as vezes a maldição de um pai vem dentro de um carro, que a praga de um médico pode vir com um PhD. Que a pior coisa que pode acontecer com alguém, as vezes é dar tudo certo. É saber muito sobre muita coisa. E que quando algo dá muito certo, as vezes a pessoa vai embora do corpo e volta outra pessoa ali pra dentro que não gosta de ninguém…

Gosto sim de procurar sempre ser melhor no que eu faço. Isso é uma regra de vida. Gosto de melhorar minhas coisas todo dia! Acredito que não nascemos para a mediocridade. Os japoneses chamam isso de “Kaisen”, "a melhora constante". Mas não abro mão da minha posição de sempre não saber de algo, apenas porque isso tem enchido a minha cozinha de gente… e isso é bom.