Fiz 29

O aniversário é sempre essa flagrante constatação de que o tempo está fugindo da gente. Ele foge a cada segundo, mas é no aniversário que me sinto obrigado a considerar esses dias que separam meu nascimento do agora, o presente. Um dos aprendizados mais importantes pra mim, é saber que o tempo não é um bem renovável. Uma vez usado, ele envelhece.
E eu, gostaria de ter usado melhor o meu tempo. Gostaria de ter investido nas amizades que não sobreviveram ao caminho, aos amores que se foram, e nos dias normais com a minha família, quando eu não imaginava que um dia eles também passariam. Em algum sentido, o aniversário me obriga a alguns lamentos.
A cada dia, tenho menos convicções, vou caminhando devagar por minhas incertezas. Envelhecer é também poder admitir que não sei, sem medo de parecer estúpido. E eu que em algum momento me iludi achando que sabia ou já tinha aprendido, na verdade, descobri que não sei quase nada, e a essa altura, aqueles que acham que sabem demais é que me parecem os verdadeiros estúpidos.
Nunca imaginei que, aos 29 anos, estaria onde estou. Nem tão triste, nem tão feliz. A vida vai e vem, muda e muda de novo, faz, se desafaz, e refaz de novo, e pouca coisa está sob meu controle. Nada me parece mais correto do que ser receptivo às mudanças. É preciso aprender, reaprender e desaprender, toda hora. Li uma vez em algum lugar que a felicidade depende de adaptação e inadequação, num equilíbrio harmônico.
Vou acumulando saudades. Talvez tenha sido o que mais consegui acumular todo esse tempo. Apesar de ser, quase sempre, um sentimento dolorido, ele tem uma beleza profunda. E ainda estou aprendendo a sentir saudades de maneira positiva, talvez por questão de sobrevivência. Sempre entendi que sentir saudade é prova de que a vida está valendo à pena, que tem significado, saudade é a lembrança dos dias que fizeram a vida valer à pena, e nesse sentido, essa é a maior riqueza.
Fazer aniversário é deixar que os dias ensinem suas lições: reunir força suficiente nos dias bons para enfrentar com coragem os dias ruins. Aprender que a dor forja o caráter, e o amor forja o perdão. Sentir saudades das coisas boas que vivemos e das pessoas que se foram, e ter esperança para melhorar o que ainda não está bom. E manter por perto as pessoas que amamos. A cada dia estou mais convencido de que Deus se faz presente através delas.
Enfim, eu espero viver com e de propósito até meu próximo aniversário.